quarta-feira, 30 de maio de 2012


Visão Analítica da Informática na Educação no Brasil:
A Questão da Formação do Professor

José Armando Valente
A História da Informática na Educação no Brasil data de mais de 20 anos. Nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP. Nos anos 80 se estabeleceu através de diversas atividades que permitiram que essa área hoje tenha uma identidade própria, raízes sólidas e relativa maturidade. Apesar dos fortes apelos da mídia e das qualidades inerentes ao computador, a sua disseminação nas escolas está hoje muito aquém do que se anunciava e se desejava. A Informática na Educação ainda não impregnou as idéias dos educadores e, por isto, não está consolidada no nosso sistema educacional.
Diante desse quadro, a pergunta que se faz é: "por que essa proliferação não aconteceu"? Talvez a resposta mais óbvia seja: "faltou vontade política dos dirigentes", projetos mais consistentes e corajosos e, conseqüentemente, verbas. Mas a resposta não é tão simples.
Focar a discussão somente na falta de recursos financeiros parece muito superficial. Nesse momento, quando se inicia o ano de 1997 e o Governo Federal cria condições para a disseminação da Informática na Educação, é extremamente oportuna a reflexão sobre essa longa caminhada e a compreensão de como essa disseminação pode ser efetivamente mantida dentro de propostas competentes e viabilizadas pela comunidade científica e educacional.
A posição que defendemos é que, além da falta de verbas existiram outros fatores responsáveis pela escassa penetração da Informática na Educação. A preparação inadequada de professores, em vista dos objetivos de mudança pedagógica propostos pelo "Programa Brasileiro de Informática em Educação" (Andrade, 1993; Andrade & Lima, 1993) é um destes fatores. Esse programa é bastante peculiar e diferente do que foi proposto em outros países. No nosso programa, o papel do computador é o de provocar mudanças pedagógicas profundas ao invés de "automatizar o ensino" ou promover a alfabetização em informática como nos Estados Unidos, ou desenvolver a capacidade lógica e preparar o aluno para trabalhar na empresa, como propõe o programa de informática na educação da França. Essa peculiaridade do projeto brasileiro aliado aos avanços tecnológicos e a ampliação da gama de possibilidades pedagógicas que os novos computadores e os diferentes software disponíveis oferecem, demandam uma nova abordagem para os cursos de formação de professores e novas políticas para os projetos na área.
O artigo descreve, inicialmente, os principais marcos do desenvolvimento da Informática na Educação nos Estados Unidos da América e na França. O Programa Brasileiro de Informática na Educação, de certa forma, foi influenciado pelo que foi realizado em Informática na Educação nesses países e, portanto, a discussão dessas realizações cria um contexto bastante importante para entender o Programa Brasileiro. Em seguida o artigo descreve as bases para a Informática na Educação no Brasil de forma genérica uma vez que o artigo da Maria Cândida de Moraes (ver páginas xxxxx) detalha as principais ações do Programa Brasileiro de Informática na Educação. Finalmente, aprofunda nas questões da formação do professor e dos avanços tecnológicos em consonância com as exigências e peculiaridades do Programa Brasileiro.
A INFLUÊNCIA DE OUTROS PAÍSES NO DESENVOLVIMENTO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A Informática na Educação no Brasil nasce a partir do interesse de educadores de algumas universidades brasileiras motivados pelo que já vinha acontecendo em outros países como nos Estados Unidos da América e na França. Embora o contexto mundial de uso do computador na educação sempre foi uma referência para as decisões que foram tomadas aqui no Brasil, a nossa caminhada é muito particular e difere daquilo que se faz em outros países. Apesar das nossas inúmeras diferenças, os avanços pedagógicos conseguidos através da informática são quase os mesmos que em outros países. Nesse sentido estamos no mesmo barco.
Mesmo nos países como Estados Unidos e França, locais onde houve uma grande proliferação de computadores nas escolas e um grande avanço tecnológico, as mudanças são quase inexistentes do ponto de vista pedagógico. As mudanças pedagógicas são sempre apresentadas ao nível do desejo, daquilo que se espera como fruto da informática na educação. Não se encontram práticas realmente transformadoras e suficientemente enraizadas para que se possa dizer que houve transformação efetiva do processo educacional como por exemplo, uma transformação que enfatiza a criação de ambientes de aprendizagem, nos quais o aluno constrói o seu conhecimento, ao invés de o professor transmitir informação ao aluno.

A Utilização dos Recursos Informatizados a Partir de uma Relação Inventiva com a Máquina: a Robótica Educativa

Rogers Maisonnette

As justificativas para a introdução dos computadores na educação são diversificadas e, na medida em que aumenta a intimidade dos alunos e professores com os novos recursos, estes podem e devem ser expandidos . A utilização da robótica na educação vem expandir o ambiente Logo de aprendizagem, disponibilizando mais ferramentas, aumentando a gama de atividades que podem ser desenvolvidas e promovendo a integração de diversas disciplinas, na medida em que os alunos podem vivenciar, na prática, o método científico, simulando mecanismos do cotidiano, através da construção de maquetes controladas pelo computador.
A robótica educativa, apoiada na experimentação e na errância, propõe "uma nova relação professor/aluno, na qual ambos caminham juntos, a cada momento, buscando, errando, aprendendo...." (Fróes, 1998)
Mas o que é robótica ? e do que trata a robótica educativa ? Podemos definir como robótica o controle de mecanismos eletro-eletrônicos através de um computador, transformando-o em uma máquina capaz de interagir com o meio ambiente e executar ações decididas por um programa criado pelo programador a partir destas interações. Podemos exemplificar o uso da robótica em diversas área de conhecimento. Na engenharia temos os robôs que mergulham a grandes profundidades para auxiliar em reparos nas plataformas de petróleo; na medicina, os robôs já auxiliam as cirurgias de alto risco. Outras aplicações podem ser menos percebidas, você sabia que a impressora do seu computador é um robô ?
A robótica educativa é uma aplicação desta tecnologia na área pedagógica, sendo mais um instrumento que garante aos participantes a vivência de experiências semelhantes às que realizarão na vida real e oferece oportunidades para propor e solucionar problemas difíceis mais do que observar formas de solução.
Para Piaget, as funções essenciais da inteligência consistem em compreender e inventar, em outras palavras, construir estruturas estruturando o real. A experiência física definida por Piaget como essencial na formação da inteligência consiste em agir sobre os objetos e descobrir as propriedades por abstração, partindo dos próprios objetos.
Em nossa proposta de robótica educativa, invenção e compreensão são palavras-chave O aluno é instigado, a todo momento, a observar, abstrair e inventar, criando seus modelos a partir de materiais diversos do seu cotidiano tais como peças de brinquedos e eletrodomésticos danificados, peças de lego, circuitos eletrônicos, etc.
O aluno passa, então, a construir seu conhecimento através de suas próprias observações, e como nos ensina Papert, aquilo que é aprendido pelo esforço próprio da criança tem muito mais significado para ela e se adapta melhor às suas estruturas mentais, uma vez que o processo de aprendizagem requer, para as informações novas, uma estrutura anterior que permita que estas possam ser melhor assimiladas. Nesta filosofia não encontra respaldo a aprendizagem passiva, caracterizada apenas pela absorção de informações. O mais importante é a investigação, o processo exploratório ao qual é induzido o aluno, levando este a desenvolver um verdadeiro processo de descoberta.

Mudando paradigmas: Conhecendo a informática educacional

Vicente Willians

Meu primeiro contato com a Informática Educacional foi em 1993. Nesta época, ministrava aulas de informática em um Curso Profissionalizante de Ensino Médio (2º Grau). Estava visitando uma Feira de Informática realizada no antigo MEC e, neste evento, além da exposição de stands, seriam realizadas algumas palestras. Vendo o programa daquele dia, achei que seria bastante interessante assistir a uma palestra sobre Inteligência Artificial. Antes desta palestra haveria outra sobre Informática Educacional?!. Eu não tinha idéia do que se tratava, mas, como tinha que esperar pela palestra sobre Inteligência Artificial, fiquei no auditório. Para tentar encurtar essa história, posso dizer que aquela palestra sobre Informática Educacional mudou de forma radical a minha postura quanto ao que pensava ser educação. Os relatos e questionamentos levantados pelo palestrante me fizeram repensar sobre tudo que considerava ser o "papel de um professor". A partir daquele momento, comecei a entender que nem sempre ou até, por que não dizer?, quase nunca é o aluno o único responsável pela sua dificuldade de aprendizado. Entendi que para se trabalhar com educação é necessário um "algo mais", que não dá para explicar, algo que faz com que você aceite participar de um processo de construção. Trocando em miúdos, depois desta palestra procurei estudar e conhecer mais sobre Informática Educacional.
Através dos estudos feitos nesta área, comecei a modificar minha postura frente aos problemas de aprendizagem dos meus alunos, procurando tratar cada um como sendo único, respeitando sua individualidade ajudando-os perceber a importância de estarem aprendendo algo para ser utilizado em sua vida. É importante ressaltar as dificuldades encontradas neste período, pois eu era o tipo de professor "turrão", que acreditava estar "dando" uma aula maravilhosa e que todos os aluno deveriam ficar muito satisfeitos e atentos à mesma. Esta minha nova postura não me trouxe problemas com os alunos; pelo contrário, a minha relação passou a ser muito mais prazerosa. Uma das observações mais importante que fiz neste período foi a de que a relação professor / aluno melhorou muito gerando o companheirismo e favorecendo a aprendizagem.
Os problemas que não tive com os alunos foram os encontrados com meus colegas de profissão e com a coordenação da escola, pois todos achavam que minha nova postura contrastava com a da maioria dos outros professores. Só para exemplificar esta fase, houve um dia em que, como sempre acontecia, estávamos em um Conselho de Classe, e os professores começaram a falar das dificuldades que a maioria dos alunos tinha em assimilar os conteúdos "tão bem explicados". Como já era de costume, estávamos todos indo para o lugar-comum de falar que os alunos não conseguiam aprender, usando, inclusive, expressões bastantes grotescas. Diante deste panorama, tomei a atitude de perguntar à Diretora da escola, que participava do conselho, se aquela reunião se resumiria ao levantamento dos problemas de alunos. Ela pediu para que eu fosse mais claro em minha indagação. Relatei, então, que já estava na escola há 4 anos e que em todos os conselhos eram levantadas as mesmas dificuldades, algo que devo reconhecer que também era feito por mim um tempo atrás. Falei que o importante seria que, além de estarmos levantando os problemas, também estivéssemos fornecendo sugestões sobre como solucioná-los. Para minha "grande" surpresa, alguns professores pensavam da mesma forma que eu. Aproveitando o fato de já ter conseguido fazer com que os professores entendessem que, pelo menos em parte, eram responsáveis pelas dificuldades dos alunos, sugeri que fosse criada o que chamamos na época de "aula de reforço", e fazer nessas aulas, algo "diferente", utilizando outros recursos que não fossem somente o quadro-negro e o giz.

Educação e Informática: A Relação Homem/Máquina e a Questão da Cognição

                                             Jorge R. M. Fróes 
A tecnologia sempre afetou o homem: das primeiras ferramentas, por vezes consideradas como extensões do corpo, à máquina a vapor, que mudou hábitos e instituições, ao computador que trouxe novas e profundas mudanças sociais e culturais, a tecnologia nos ajuda, nos completa, nos amplia.… Facilitando nossas ações, nos transportando, ou mesmo nos substituindo em determinadas tarefas, os recursos tecnológicos ora nos fascinam, ora nos assustam…
E esta forma de interferência da tecnologia em nosso cotidiano caracteriza uma contribuição que ocorre naturalmente, mesmo que não nos estejamos dando conta disso. Trata-se de um processo interessante, que está mudando, entre outras coisas, aquilo que tradicionalmente chamamos de "ensino", aproximando-o cada vez mais do próprio processo natural de difusão cultural. As assim chamadas "novas tecnologias" estão desterritorializando a instituição escolar: hoje, aprende-se não apenas no prédio físico da escola, mas em casa, no escritório de trabalho, em qualquer lugar onde se possa ter acesso às informações ( e o próprio escritório de trabalho pode estar em nossa residência).
Assim, da mesma forma como a criatividade inventiva do homem gera novas ferramentas tecnológicas, e modifica constantemente os instrumentos que inventa, existe um efeito inverso: a tecnologia modifica a expressão criativa do homem, modificando sua forma de adquirir conhecimento, interferindo assim em sua cognição.
 Desde a invenção do primeiro computador eletrônico programável, o ENIAC, (Electronical Numerical Integrator and Computer), operacionalizado inicialmente em 1946, resultante de um esforço de guerra, necessário à participação militar americana na Segunda Guerra Mundial, registra-se, na história da computação, a ênfase na resolução de problemas, apoiada em fundamentos lógicos. Datam igualmente da década de 40 os primórdios do lançamento da primeira etapa das assim chamadas "ciências da cognição", envolvendo diversas disciplinas tais como a lingüistica, a epistemologia, a psicologia cognitiva, as neurociências e, claro, a Inteligência artificial. Essas disciplinas destacam, de uma forma geral, a lógica matemática como base do entendimento do funcionamento do cérebro, fato verificado em diversas propostas, onde os neurônios eram representados como componentes dotados de princípios lógicos, reproduzindo as configurações das "portas lógicas", dos circuitos lógicos, "and", "or", e suas combinações formais. A lógica passou então a ser utilizada como modelo formal do funcionamento do sistema nervoso e do próprio raciocínio humano, dando início à construção de um novo paradigma sobre o conhecimento, nas suas relações com a tecnologia: o paradigma cognitivista (Cf. Varela, 1996).

Ensinando na Era da Informação

Laura Coutinho

A informação sempre foi a ingrediente principal na educação. O uso de redes de alta velocidade, com fibras óticas ou conexões via satélite para acessar rapidamente as grandes bibliotecas eletrônicas expansíveis e bases de dados fornece a base para uma potencial revolução no aprendizado. A combinação destes recursos com um computador pessoal dá aos estudantes acesso a grandes quantidades de informações, e moverá o locus do poder do professor para o aprendiz. As comunicações via computador, por exemplo, a conexão de computadores pessoais a servidores "mainframe" via redes de dados, pode criar ambientes educacionais altamente interativos.

                                      Uma Revolução no Aprendizado
O computador pessoal colocou um poder inimaginável nas mãos dos aprendizes individuais. Ele pode permitir que os aprendizes trabalhem de suas próprias maneiras, em velocidades variadas. Por muito empo, a educação tem feito promessas infundadas para atender as necessidades únicas dos indivíduos e ensiná-los de que maneira aprender. O adventos da era da informação juntamente com o advento dos computadores pessoais tornam esta meta mais significativa .
Tipicamente, as salas de aula tradicionais têm fileiras de estudantes, sentados lado a lado, encarando bem em frente um professor, que é o fornecedor do conhecimento. Quaisquer diferenças entre os estudantes são explicadas como medidas da inteligência individual. Esta estrutura espelha os sistemas de linhas de montagem da sociedade industrial e reflete a mentalidade da revolução industrial que certa vez guiou os caminhos de nossa sociedade. A era da informação de hoje necessita de um novo modelo para a educação; por isso, existe o potencial para uma revolução no aprendizado.
O que é informática?
Chama-se genericamente de informática ao conjunto das ciências da informação, estando incluídas neste grupo: a ciência da computação, a teoria da informação, o processo de cálculo, a análise numérica e os métodos teóricos da representação dos conhecimentos e de modelagem dos problemas.

O termo informática, sendo dicionarizado com o mesmo significado amplo nos dois lados do Atlântico, assume em Portugal o sentido sinônimo de ciência da computação enquanto que no Brasil é habitualmente usado para referir especificamente o processo de tratamento da informação por meio de máquinas eletrônicas definidas como computadores.

O estudo da informação começou na matemática quando nomes como Alan Turing, Kurt Gödel e Alonzo Church, começaram a estudar que tipos de problemas poderiam ser resolvidos, ou computados, por elementos humanos que seguissem uma série de instruções simples de forma, independente do tempo requerido para isso. A motivação por trás destas pesquisas era o avanço durante a revolução industrial e da promessa que máquinas poderiam futuramente conseguir resolver os mesmos problemas de forma mais rápida e mais eficaz. Do mesmo jeito que as indústrias manuseiam matéria-prima para transformá-la em um produto final, os algoritmos foram desenhados para que um dia uma máquina pudesse tratar informações. Assim nasceu a informática.

Aplicação dos recursos de informática na educação 
Muitas escolas do Brasil já possuem um laboratório de informática com acesso à Internet, softwares educacionais e programas básicos (editores de texto, programas de edição de imagens e apresentações, planilhas de cálculo, etc). Porém, basta ter os recursos? Como utilizá-los de maneira a garantir o desenvolvimento do aluno? Estas são apenas algumas questões levantadas por educadores brasileiros.

Em primeiro lugar, temos que partir do princípio de que o computador é apenas uma ferramenta. Sozinho, não é capaz de trazer avanços educacionais. Uma escola que resolve utilizá-lo como recurso didático necessita de bons professores, preparados e treinados, para utilizar os recursos oferecidos por este sistema tecnológico de forma significativa.

Colocar qualquer software para os alunos usarem não gera aprendizado. É importante que a escola tenha um projeto pedagógico que envolva a utilização do computador e seus recursos. O aluno não pode ser um mero digitador, mas sim, ser estimulado a produzir conhecimentos com o uso do computador. Neste sentido, o professor deve agir como um orientador do projeto que está sendo desenvolvido.

O uso da Internet também é um caso importante. De nada adianta pedir para um aluno fazer uma pesquisa na Internet sem as devidas orientações. Cabe ao professor instruir os alunos para que estes não façam simples cópias de textos encontrados em sites. Apenas copiando, os alunos não vão aprender. As orientações devem ser no sentido de como elaborar uma pesquisa, como encontrar sites confiáveis, como gerar conhecimentos com o material pesquisado, etc.

Outro ponto importante é o incentivo à criação. O aluno não deve ser colocado de forma passiva diante do computador. As ferramentas tecnológicas devem servir de base para a criação. Uma planilha de cálculos, por exemplo, pode ser usada para um trabalho de matemática com dados estatísticos, criando fórmulas e gerando gráficos. Um editor de textos pode ser usado para a criação de um jornal com notícias e informações sobre o conteúdo de uma disciplina. Um programa de apresentação (PowerPoint) apresenta inúmeras possibilidades na elaboração de aulas com imagens, sons e outros elementos multimídia.